"O PEQUI RENDE MAIS COM MENOS EXPLORAÇÃO" O QUE FOI FEITO DO PROJETO DO PNUD?
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, projeto este direcionado para orientar a exploração de maneira sustentável do Pequi, temendo a sua diminiução e um conseqüente desequilíbrio ecológico na Chapada de Araripe).
"Ensinar comunidades a fazer o manejo da fruta de maneira a aumentar a produção e diminuir danos ambientais é fundamental".
O pequi é um fruto do tamanho de uma laranja pequena, é típico do Cerrado brasileiro, mas há um oásis na Caatinga em que ele é abundante: na Chapada do Araripe, no Ceará. Em uma altitude de 800 metros, com serras que dificultam a passagem das nuvens, a região tem clima diferente do restante do Nordeste: é mais úmido e mais chuvoso, o que favorece a produção do fruto. E é dele que a maioria das comunidades da Chapada tira seu sustento.
“O pequi é parte da tradição dos moradores da Chapada do Araripe”, afirma Francisco Campello, coordenador de um Projeto Manejo Integrado de Ecossistema para o Bioma Caatinga, do GEF (Fundo para o Meio Ambiente Mundial) e do PNUD, em 2005. O fruto é usado principalmente para a produção de óleo (produto que é vendido na região de Juazeiro e em alguns lugares do Estado de São Paulo), além de aparecer como ingrediente em vários pratos típicos da região.
O projeto coordenado por Campello visava ajudar a população local a tirar o máximo proveito possível do pequi, com impacto ao mínimo na floresta. A primeira vertente consiste em ensinar a melhorar a produção do óleo de pequi através de novas técnicas e a produzir outras coisas com essa matéria-prima. “A popa do pequi também pode ser usada para ração animal, e a amêndoa pode gerar um óleo fino, bastante apreciado pela indústria de cosméticos, por exemplo”, afirma Campello.
Ensinar os moradores das comunidades da Chapada a agregar mais valor ao pequi tem uma importância dupla: oferecer uma fonte alternativa de renda e, ao assegurar uma maior lucratividade por fruta, evitar que se retire tanto fruto da mata.
A segunda vertente do projeto, consistia em trabalhar com as comunidades para diminuir a degradação da floresta. Apesar de ser um recurso não-madeireiro, explorar o recurso sem um manejo sustentável também enfraquece a mata da região da Chapada do Araripe: o fruto é consumido por diversas espécies de pássaros e outros animais, que não apenas se alimentam como espalham a semente do pequi pela floresta, permitindo o crescimento de novas plantas. Se tudo for usado para consumo humano, diminui o alimento das espécies animais e diminui também a quantidade de árvores na floresta.
Antigamente, os moradores pegavam apenas os pequis que estavam já amadurecidos e caídos no solo. “Eles eram chamados de catadores de pequi porque, realmente, apenas catavam as frutas do chão”, conta Campello. O aumento da demanda pelo fruto, no entanto, fez as comunidades passarem a explorar mais o recurso, chegando a balançar os galhos para derrubar o fruto ainda verde.
“Retirar o pequi antes da hora é ruim tanto para o meio ambiente quanto para a comunidade. O fruto verde não faz um bom óleo e sua retirada atrapalha o desenvolvimento da floresta”, afirma o coordenador do projeto.
Para mudar a atitude dos moradores, os técnicos do programa foram de grupo em grupo ensinando por que é importante fazer a exploração de maneira sustentável. Com isso, a população aprendeu a não chacoalhar os galhos das árvores e a retirar apenas os frutos do chão — ainda assim, deixando uma parte para ser consumida pelos animais, para que outras árvores possam nascer.
O trabalho do projeto com as populações do Araripe gerou ainda um último benefício. A produção de pequi de algumas comunidades está sendo comprada antecipadamente pela CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), como parte de uma outra iniciativa do PNUD, o Projeto de Revitalização da Companhia Nacional de Abastecimento. O fruto comprado pela CONAB é usado para dar alimento aos projetos sociais do governo na região.
A Chapada do Araripe é uma das nove regiões selecionadas pelo Projeto de Manejo de Ecossistema do Bioma Caatinga em sua primeira fase. Essas áreas, segundo Campello, foram escolhidas por terem problemas representativos da região. Quando a segunda fase entrar em operação, as experiências desenvolvidas nesses locais serão repetidas em outros pontos da Caatinga. E, ao final, na terceira etapa, o objetivo é ter bases para a formulação de políticas públicas efetivas para ajudar a população que vive nesse bioma.
MARÍLIA JUSTE
fonte: odemocrato.blogspot.com
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